Nos últimos dias, a percepção de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central precisará aumentar a taxa Selic até o final do ano ganhou força entre gestores de mercado. Esse sentimento foi alimentado por declarações firmes de diretores do Banco Central, que deixaram claro que a possibilidade de alta dos juros está em pauta.

Durante a semana passada, Gabriel Galípolo, diretor do Banco Central, destacou que a “alta da Selic está na mesa” e que o custo de perseguir a meta de inflação pode variar, mas o BC não se desviará de seu objetivo. Essa postura foi reforçada na véspera (13) por Diogo Guillen, diretor de política econômica do BC, que sublinhou que a instituição pode precisar elevar os juros diante dos riscos crescentes no cenário econômico.

Essas declarações trouxeram ânimo ao mercado financeiro. Houve uma queda nos juros futuros e uma apreciação do real em relação ao dólar, evidenciando a confiança renovada na capacidade do Banco Central de manter a inflação sob controle. “Achamos que o BC vai subir [a Selic]. O Galípolo foi muito vocal, e ontem o Diogo [Guillen] também”, comentou Luiz Eduardo Portella, sócio e gestor da Novus Capital. Portella acredita que uma série de quatro aumentos de 0,25 ponto percentual na Selic, iniciando em setembro, seria suficiente para garantir a convergência da inflação à meta.

Para Portella, os recentes discursos dos diretores do Banco Central fortaleceram a credibilidade da instituição. A percepção é que o BC está disposto a tomar as medidas necessárias para assegurar a convergência da inflação, mesmo que isso implique em uma alta nos juros. Além disso, essas declarações foram cruciais para evitar novas elevações nas expectativas de inflação para 2025 e 2026, conforme refletem os dados do Boletim Focus. De acordo com o boletim desta semana, a previsão para a inflação de 2025 caiu ligeiramente de 3,98% para 3,97%, enquanto a projeção para 2026 foi mantida em 3,60%, valor que permanece estável há dez semanas.

Essa visão é compartilhada também dentro da Itaú Asset. Durante um evento promovido pela Warren Investimentos, Bruno Serra, gestor da casa e ex-diretor do Banco Central, ressaltou que a recente valorização do real em relação ao dólar não deve ser subestimada, mas também não é suficiente para eliminar a possibilidade de uma alta da Selic ainda este ano. Segundo Serra, “o efeito benigno ou negativo do câmbio ocorre num horizonte de três a quatro trimestres”, o que significa que, mesmo com a valorização cambial, a necessidade de ajuste nos juros pode permanecer, a menos que haja uma rápida queda nas expectativas de inflação.

Dessa forma, parece que o mercado se prepara para um cenário em que o Banco Central não terá outra escolha a não ser aumentar a Selic para garantir o cumprimento de suas metas inflacionárias. Com discursos firmes e uma estratégia clara, a autoridade monetária reforça sua posição e acalma os mercados, ainda que isso signifique um caminho de aperto monetário à frente.